Antônio Chateaubriand Joly (1908-1910)

Antônio Chateaubriand Joly nasceu em Itatiba e foi batizado no dia 13 de julho de 1865, filho de Eugênio Joly e Maria Carolina da Silveira Franco, ricos fazendeiros de café. Após seus primeiros estudos, e com apenas 16 anos de idade, seguiu para São Paulo onde frequentou Faculdade de Direito entre 1881 e 1883. Nesse período permaneceu com os irmãos Afonso Eugênio e Amador Joly que ali também estudavam. Retornando para Itatiba, ele publicou em 1883 o “Mapa Agrícola do Município de Itatiba” contendo em detalhes todos os rios, fazendas e estradas do município. No dia 29 de maio de 1887, ele se casou com Maria da Silva Franco, sua prima, ela filha de Joaquim da Silva Franco, o Comendador Franco, e de Gertrudes Maria de Oliveira Franco, e teve os filhos Joaquim, Ignácio, José, Célica e Eugênio Joly Neto.

Antônio Chateaubriand Joly se dividia entre as fazendas e a atuação na política, seguindo o caminho de seu pai, Eugênio Joly, que teve forte atuação nesses dois setores. Membro do Partido Republicano, Chateaubriand Joly teve como mentor o Cel. Júlio César, o grande líder republicano da cidade. Um de seus primeiros cargos públicos foi o de presidente do Conselho Municipal de Instrução Pública em 1895. Nesta função, ele muito trabalhou para a criação de escolas rurais no município. E a exemplo de outras autoridades daquela época, ele também ostentava uma patente militar: a de Tenente Coronel comandante do 33º batalhão de infantaria, desde pelo menos 1893.

Em 1900 ele estava atuando como vereador da Câmara Municipal e nesse período exerceu também o cargo de Intendente, função esta que precedeu a de Prefeito. Em 1906 prestou concurso para o cargo de Tabelião e tudo indicava que ele se afastaria da política. Mas, por influência de Júlio César, esses planos foram adiados.

Naquele momento os republicanos da cidade se dividiam em dois grupos antagônicos: de um lado estava o grupo liderado por Francisco Rodrigues Barbosa, o Chico Peroba, cujos membros eram chamados de “Perobistas”, e de outro estava a agremiação chefiada pelo Cel. Júlio César, sendo os seus membros conhecidos como “Trepistas”. Em 1906 Chico Peroba estava em vantagem, pois contava com a maioria dos vereadores na Câmara. Porém, tudo mudaria em 1907, quando Júlio César convenceu Joly a concorrer para uma vaga de vereador. A campanha foi um sucesso e ele foi eleito com grande votação. Na capital, o jornal O Estado de São Paulo publicou:

“ITATIBA - O Sr. tenente-coronel Chateaubriand Joly foi eleito vereador da Câmara Municipal por 601 votos. Há grande entusiasmo popular. O Sr. Chateaubriand Joly foi o vereador que alcançou a maior votação, no regime republicano, nesta localidade”.

Desde os seus primeiros dias como vereador, Chateaubriand Joly não poupou críticas aos Perobistas. Eram críticas sérias, especialmente com respeito aos gastos públicos. Essa postura de Joly foi recebida com elogios e, na Capital, o jornal “O Comércio de São Paulo publicou em 1907:

“MIXORDIA MUNICIPAL – É um descalabro o que se dá no governo de Itatiba, onde o dinheiro público é esbanjado a rodo pela camarilha imprudente (...)” fato este que “provocou justos protestos dos vereadores Ramos e Joly que absolutamente não compactuam com semelhante escândalo”. Como se percebe, a atuação de Joly rendeu elogios, mas ao mesmo tempo também provocou a ira dos Perobistas.”

Em dezembro de 1907 foram realizadas as eleições gerais, saindo vitorioso o grupo de Júlio César. Reconduzido à cadeira de vereador, Chateaubriand Joly sentiu-se fortalecido para se candidatar ao recém criado cargo de prefeito. É preciso lembrar que até então Itatiba não possuía prefeitos. Era algo novo que fora criado a partir da Proclamação da República em 1889. Até essa época a administração da cidade era exercida apenas pela Câmara Municipal. Nesse contexto, o chefe do poder executivo era sempre o presidente da Câmara. Em São Paulo, por exemplo, o primeiro prefeito foi eleito em 1899 e em Jundiaí em 1903. Em Itatiba demorou um pouco mais.

E assim, no dia 15 de janeiro de 1908 as eleições foram realizadas. Entretanto, não foi uma eleição direta, pois como era o costume, a escolha de nosso primeiro prefeito ocorreu através de uma eleição indireta. Em outras palavras, era regra que o cargo de prefeito deveria ser exercido por um dos vereadores, e a votação se dava entre eles próprios. Procedida a eleição, Chateaubriand Joly saiu vencedor quase que por unanimidade. Este pleito foi assim registrado nas Atas da Câmara de Itatiba:

“Para Prefeito Municipal, Antônio Chateaubriand Joly (6) seis votos, Francisco da Silveira Pupo (1) um voto e uma cédula em branco. Para vice-prefeito, Francisco da Silveira Pupo (6) votos, Benedito Elias de Godoy Moreira (1) um voto e uma cédula em branco.”

Antônio Chateaubriand Joly 2Cerimônia de posse na Câmara Municipal em 1908. Joly aparece na foto em pé no grupo à esquerda. Em pé, na mesa, o presidente da Câmara major Antônio Augusto da Fonseca Sobrinho. À direita, ao fundo em pé diante cortina, o coronel Francisco Rodrigues Barbosa, o Chico Peroba. Também em pé, no canto à direita, está o coronel Júlio César.

A partir daquele momento os papéis se inverteram e os “Perobistas”, antes no poder e fustigados por Joly, estavam agora em minoria. Mas, a oposição não permaneceu em silêncio. Naquele momento foram anotadas muitas intrigas e desavenças que perturbaram o mandato de Chateaubriand Joly.

De toda forma, o legado de Chateaubriand Joly como prefeito de Itatiba é extenso, incluindo desde o apoio à agricultura, onde o café se destacava, e até os seus esforços para a implantação de indústrias na cidade. Mas, dentre as obras sob sua direção, vale citar o embelezamento da área central da cidade com a construção de alguns símbolos que até hoje podem ser vistos. E dentre eles destaca-se o planejamento e a construção da Praça da Bandeira, antigo Largo da Matriz, que até então não passava de um terreno em terra batida, sem qualquer ajardinamento. A partir de sua gestão, o largo recebeu um projeto que o transformou em um lindo jardim ao estilo francês. Um ano antes, Joly já havia incentivado a edificação do coreto que agora se integrava à nova praça, transformando-a no mais belo e aprazível local de passeio da cidade. A transformação da Praça Bonifácio, antigo “Jardim Cadeia”, em um belo logradouro e a aquisição do terreno onde hoje está a Praça XV de Novembro e o Paço Prefeito Roberto Arantes Lanhoso, completaram esta reforma do centro da cidade.

Mas, o que chamava mais a atenção era mesmo a Praça da Bandeira com seus belos canteiros quase que simétricos, inspirados no Jardim de Versalhes, e aqui desenhados e floridos por Antônio Ferraz Costa. Foi uma obra impressionante que inclusive mereceu destaque no jornal “O Comercio de São Paulo” em 1908:

“ITATIBA -O Sr. Ferraz Costa já deu começo ao ajardinamento do largo da Matriz, aonde há pouco foi inaugurado o elegante coreto. O Sr. Antônio Chateaubriand Joly, prefeito municipal, é bem intencionado tanto pelo embelezamento da cidade como pelas economias que procura fazer a benefício dos cofres municipais.”

Antônio Chateaubriand Joly 3A Praça da Bandeira em 1915. Foto Parodi

A transformação de um terreno árido para um jardim em estilo europeu impressionou e agradou sobremaneira a população. Mas, este sucesso de Chateaubriand Joly aborrecia a oposição. Por isso seus desafetos estavam sempre em alerta para apontar qualquer equívoco ou falha na administração da cidade. E quando elas não existiam, procuravam atingi-lo com ações desesperadas como a que ocorreu em agosto de 1909, ocasião em que, sorrateiramente à noite, os canteiros da recém-inaugurada Praça da Bandeira foram destruídos. O ato de vandalismo repercutiu de tal maneira que o jornal “O Estado de São Paulo”, em ampla matéria sobre Itatiba publicada no dia 2 de setembro de 1909, destacou:

Apesar de não acusar este ou aquele grupo pelo vandalismo, a situação vivida na cidade apontava que os culpados eram mesmo os desafetos do prefeito. E, de fato, os acontecimentos que se seguiram consolidam esta hipótese.

Um dado que deve ser levado em consideração é que para realizar todas essas obras, Chateaubriand Joly teve que lançar mão de empréstimos, fato este que causou a fúria dos Perobistas. Entre eles estava o advogado Dr. Armando Rodrigues, que pelas páginas do jornal “A Reacção” fez acusações pesadas contra o prefeito.

Não bastou o prefeito ter aberto as contas públicas para a fiscalização de todos os interessados, pois as críticas continuaram. As trocas de acusações chegaram a um ponto preocupante e a população temia que algo mais sério viesse a ocorrer.

E, de fato, as previsões estavam corretas, pois na manhã do dia 21 de novembro de 1909, perobistas e trepistas se enfrentaram com violência em plena Praça da Bandeira. Houve agressões físicas de ambos os lados, tendo Chateaubriand Joly enfrentado o Dr. Armando Rodrigues que, por sua vez, sacou um revólver. As versões do acontecimento são conflitantes: a depender do órgão de imprensa que publicou a notícia. Para o jornal carioca “Correio da Manhã” de 23/11/1909, foi o prefeito quem primeiro sofreu a agressão; já para o paulistano “O Comercio de São Paulo” da mesma data, deu-se o contrário, ou seja, teria sido Chateaubriand Joly o provocador do conflito.

Para além da disputa entre grupos políticos antagônicos, Chateaubriand Joly sofreu com a indefinição das funções a serem exercidas por um prefeito. E ele não foi o único, pois todos os primeiros prefeitos eleitos no Brasil tiveram esse problema. Num país onde historicamente os municípios eram governados pelos vereadores da Câmara Municipal, o surgimento da figura de um prefeito causou conflitos no interior da própria Câmara. Basta lembrar que a existência do prefeito não significava que já havia uma Prefeitura. Muito pelo contrário, pois o prefeito era também vereador e não tinha uma equipe própria como hoje. Assim, ele dependia da estrutura da Câmara Municipal, um cenário bem difícil diante da disputa de poder que se instalara.

De toda forma, a administração de Chateaubriand Joly foi bastante elogiada naquele momento e, vale ressaltar, não apenas pelos itatibenses, senão também pela imprensa de São Paulo conforme podemos ver a seguir com a primeira publicação do jornal Correio Paulistano de 15/09/1909 e em seguida do jornal “O Estado de São Paulo” de 12/10/1909:

Chateaubriand Joly administrou a cidade de 1908 a 1910, e em 1911 ocupou o cargo de Juiz e também de vereador. Mas, foi nesse mesmo ano que ele e sua família sofrem um duro golpe com o suicídio do filho Eugênio Joly Netto, com apenas 20 anos de idade, ocorrido na noite de um domingo, dia 1º de dezembro de 1911. Extremamente abalado com o trágico acontecimento, Chateaubriand Joly decide reassumir o cargo de tabelião e em 1913 ele já estava em São Manuel e em 1917 na Comarca de São João da Boa Vista. Posteriormente foi para Rio Claro, Batatais e em 1920, já como oficial vitalício, veio para Campinas. Por essa época residiu em Itatiba, mas logo foi para São Paulo onde faleceu no dia 30 de novembro de 1928.